sexta-feira, 24 de maio de 2013

FODENDO COM SARA

      Trepando com uma e pensando na outra. Sexo é ritualístico. Fechamos os olhos e procuramos ter prazer com aquilo que imaginamos. Eu imaginava outra. Eu pensava em outra. Era inevitável. Depois de dar uma bem dada, deitamos lado a lado, com o ventilador de teto no máximo da velocidade. Ela falava de Maiakovski. Menos literatura, mais putaria, por favor. Essa sempre foi a minha máxima. Eu era cheio de conceitos.
      “Você é uma delícia, sabia?”
      “Sabia”
      “Qual é o seu nome mesmo?”
      “Sara”
       Então acendi um cigarro. Provavelmente algo que Maiakovski faria. Sara reclamou. Pediu para que eu parasse de fumar. Talvez segunda-feira. Há três meses que tento parar de fumar na segunda-feira. Ainda era quinta. Ela então beijou meu pescoço, passou a mão no meu mamilo e perguntou manhosa:
       “Vamos meter de novo?”
       Olhei para o meu pau, cansado, quase esbaforido. Eu estava bêbado para caralho e estava há dois dias sem dormir.
      “Podemos esperar um pouco? Vinte minutos”
      “Está bem”
      Senti Sara decepcionada. Mais decepção, menos Maiakvoski. Nada contra. Em geral, gostava dos russos. Dostoievski, Gogol, Tolstoi, Gorki e tantos outros que me deixavam de pau duro. Mas não estávamos em um momento de reflexão. Provavelmente algo que Maiakovski faria, esse lance de parar e refletir. Ou ele meteria um tiro na própria cabeça.
       Então Sara trouxe cerveja gelada para nós dois. Eu ainda olhava para o meu pau. Pensei na outra e imaginei o que ela deveria estar fazendo. Talvez ouvindo aquelas bandas nacionais que só ela ouvia. Ou então estava se depilando enquanto o marido fazia as malas para viajar. E o marido nem desconfiava que a mulher saia com um escritor pouco sucedido. O escritor era eu. Ou sou eu. Não soube como conjugar, então, na dúvida, vai das duas formas. O importante é o entendimento - e olha, até eu custei a entender o que a fez querer trepar comigo.
      Eu e Sara voltamos ao sexo. Continuei pensando na outra. Imaginava apertar a sua bunda, bater em sua cara e sentir a sua respiração. Eu realmente não estava em sintonia com Sara, mas fazia o meu papel. Sara era realmente uma delícia. E a filha da puta sabia disso.
       "Tá gostando?"
       "Tô"
       Pergunta idiota. Ela não responderia o contrário. Enquanto isso, do outro lado da cidade, o marido já se despedia da esposa. Ele ficaria duas semanas fora. Viagem a negócios. Casa livre para Gregório. Eu conhecia cada canto daquele outro quarto. A parede laranja com um quadro do Pulp Fiction. A televisão sobre a estante pequena, sempre passando algum filme. Chaplin era o preferido. A janela de vidro que me fazia lembrar das histórias que ouvia quando criança. A cama arrumada.
      Continuava fodendo com Sara. Fui cansando. Tentava pensar na outra, para animar a trepada, mas eu realmente fui cansando. Então desistimos. Sara chateada - e até mesmo preocupada comigo. Olhava como quem quisesse dizer "meu bem, calma, isso acontece com todos os caras, esse lance de brochar é normal". Eu não estava nem aí. Acho que ela percebeu e ficou ainda mais aborrecida. O que eu poderia fazer? Ela ainda tentou me pagar um boquete, mas realmente não estava em condições.
      "Desculpa, hoje não vai dar mesmo. Você pode até não aceitar, mas eu tô morto de cansaço, sa'como'é?"
      "Relaxa, Gregório. Não aceito, mas tem uma frase que diz que amar não é aceitar tudo, e que onde tudo é aceito é porque há falta de amor"
       "De quem?"
       "Maiakovski"
       "Tenho uma outra ótima: coma muito cu e tenha orgasmos múltiplos "
       "É sua?"
       "Não. Provavelmente é Maiakovski também. Algo que ele falaria bebendo vodka com os bolcheviques" 
       Sara ficou brava. Nos despedimos e eu fui embora. Chovia naquele fim de tarde. Lavavam a rua. Era dia de feira livre. Os feirantes já tinham ido embora, agora era a vez do pessoal da prefeitura limpar tudo. Toda aquela gente lavando a rua e pegando chuva enquanto muita gente trepava pela cidade. A vida pareceu ter mais sentido para mim.