sexta-feira, 31 de maio de 2013

NOITE DEPRIMENTE POR R$2,90

Terminal de ônibus me deprime. Todas aquelas pessoas querendo voltar para suas casas e conseguindo e você lá esperando. Esperar me deprime. Pessoas me deprimem. E cada uma dessas pessoas com suas histórias e frenéticas e apressadas. Aquela luz branca que te deprime e aquele chão extremamente limpo porque em uma placa diz que é proibido fumar. Pensei em acender um cigarro e ver a reação dos outros. Talvez mudasse o ambiente, tiraria aquele clima de enterro que havia se instalado. Desisti da ideia. Estava deprimido demais para fumar um cigarro e para desrespeitar a lei. Eu realmente estava deprimido para caralho. Meu ônibus não chegava. Reparei num rapaz gordo que lia um livro que não consegui identificar. Pelo menos ele estava se distraindo. A minha única distração era o chão limpo. Tanta coisa boa acontecendo no mundo e tanta coisa boa para pensar e eu lá sem fazer nada de bom e sem pensar em nada que prestasse. Deprimente. Vi um conhecido que subiu tão rápido no ônibus que não tive certeza se era mesmo um conhecido. Ver todos entrando em seus ônibus me deprimia. Talvez eu devesse me acostumar com a ideia de ficar no terminal de ônibus para sempre. E quando alguém me perguntasse qual era o ônibus que iria para o morro eu responderia e indicaria a sua hora exata de saída. Meu ônibus não chegava e minha vontade de fumar aumentava. Pessoas se suicidam por muito menos. Se eu me jogasse na frente de um ônibus não faria tanta diferença. Talvez o rapaz gordo largasse a merda do livro e me desse um pouco de atenção. Talvez alguém ficasse nervoso e fumasse um cigarro. Talvez o meu ônibus chegasse e eu lá jogado e estirado e sangrando. Em pensar que eu estava pagando por isso. O rapaz gordo guardou o livro quando o nosso ônibus chegou. Que alívio! Mas, por razões desconhecidas, a minha depressão voltou. Não quis ir embora. Talvez fosse melhor permanecer no terminal. Eu estava saindo de um pequeno mundo repleto de possibilidades para voltar para casa, um pequeno mundo já explorado e esgotado. E na geladeira eu só tinha uma caixa de leite, uma margarina barata e uma panela com feijão estragado. O quão deprimente isso é?

sexta-feira, 24 de maio de 2013

FODENDO COM SARA

      Trepando com uma e pensando na outra. Sexo é ritualístico. Fechamos os olhos e procuramos ter prazer com aquilo que imaginamos. Eu imaginava outra. Eu pensava em outra. Era inevitável. Depois de dar uma bem dada, deitamos lado a lado, com o ventilador de teto no máximo da velocidade. Ela falava de Maiakovski. Menos literatura, mais putaria, por favor. Essa sempre foi a minha máxima. Eu era cheio de conceitos.
      “Você é uma delícia, sabia?”
      “Sabia”
      “Qual é o seu nome mesmo?”
      “Sara”
       Então acendi um cigarro. Provavelmente algo que Maiakovski faria. Sara reclamou. Pediu para que eu parasse de fumar. Talvez segunda-feira. Há três meses que tento parar de fumar na segunda-feira. Ainda era quinta. Ela então beijou meu pescoço, passou a mão no meu mamilo e perguntou manhosa:
       “Vamos meter de novo?”
       Olhei para o meu pau, cansado, quase esbaforido. Eu estava bêbado para caralho e estava há dois dias sem dormir.
      “Podemos esperar um pouco? Vinte minutos”
      “Está bem”
      Senti Sara decepcionada. Mais decepção, menos Maiakvoski. Nada contra. Em geral, gostava dos russos. Dostoievski, Gogol, Tolstoi, Gorki e tantos outros que me deixavam de pau duro. Mas não estávamos em um momento de reflexão. Provavelmente algo que Maiakovski faria, esse lance de parar e refletir. Ou ele meteria um tiro na própria cabeça.
       Então Sara trouxe cerveja gelada para nós dois. Eu ainda olhava para o meu pau. Pensei na outra e imaginei o que ela deveria estar fazendo. Talvez ouvindo aquelas bandas nacionais que só ela ouvia. Ou então estava se depilando enquanto o marido fazia as malas para viajar. E o marido nem desconfiava que a mulher saia com um escritor pouco sucedido. O escritor era eu. Ou sou eu. Não soube como conjugar, então, na dúvida, vai das duas formas. O importante é o entendimento - e olha, até eu custei a entender o que a fez querer trepar comigo.
      Eu e Sara voltamos ao sexo. Continuei pensando na outra. Imaginava apertar a sua bunda, bater em sua cara e sentir a sua respiração. Eu realmente não estava em sintonia com Sara, mas fazia o meu papel. Sara era realmente uma delícia. E a filha da puta sabia disso.
       "Tá gostando?"
       "Tô"
       Pergunta idiota. Ela não responderia o contrário. Enquanto isso, do outro lado da cidade, o marido já se despedia da esposa. Ele ficaria duas semanas fora. Viagem a negócios. Casa livre para Gregório. Eu conhecia cada canto daquele outro quarto. A parede laranja com um quadro do Pulp Fiction. A televisão sobre a estante pequena, sempre passando algum filme. Chaplin era o preferido. A janela de vidro que me fazia lembrar das histórias que ouvia quando criança. A cama arrumada.
      Continuava fodendo com Sara. Fui cansando. Tentava pensar na outra, para animar a trepada, mas eu realmente fui cansando. Então desistimos. Sara chateada - e até mesmo preocupada comigo. Olhava como quem quisesse dizer "meu bem, calma, isso acontece com todos os caras, esse lance de brochar é normal". Eu não estava nem aí. Acho que ela percebeu e ficou ainda mais aborrecida. O que eu poderia fazer? Ela ainda tentou me pagar um boquete, mas realmente não estava em condições.
      "Desculpa, hoje não vai dar mesmo. Você pode até não aceitar, mas eu tô morto de cansaço, sa'como'é?"
      "Relaxa, Gregório. Não aceito, mas tem uma frase que diz que amar não é aceitar tudo, e que onde tudo é aceito é porque há falta de amor"
       "De quem?"
       "Maiakovski"
       "Tenho uma outra ótima: coma muito cu e tenha orgasmos múltiplos "
       "É sua?"
       "Não. Provavelmente é Maiakovski também. Algo que ele falaria bebendo vodka com os bolcheviques" 
       Sara ficou brava. Nos despedimos e eu fui embora. Chovia naquele fim de tarde. Lavavam a rua. Era dia de feira livre. Os feirantes já tinham ido embora, agora era a vez do pessoal da prefeitura limpar tudo. Toda aquela gente lavando a rua e pegando chuva enquanto muita gente trepava pela cidade. A vida pareceu ter mais sentido para mim.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

COMO ESSA PODE SER A MELHOR ÁGUA DO MUNDO?

Noite agradável no centro de São Paulo. Muita gente aglomerada e tudo acontecendo junto e ao mesmo tempo. Estava no meio de um show de jazz na Virada Cultural de São Paulo com um casal de amigos. O relógio marcava uma hora da manhã. Não me importava com o horário. Eu era foda. Eu era Gregório.
"Gregório, trouxe?"
"Trouxe"
"Ok"
O contrabaixo ditava a nossa pulsação. O saxofonista então começou um solo que fez a gente enlouquecer. O céu estava nublado, mas não parecia que viria chuva. Clima agradável. Nem frio nem calor. Tudo certo. Tudo ok. Eu estava no meio de um show de jazz na Virada Cultural de São Paulo. Eu era foda. Eu era Gregório.
O tempo passou. Não sabia mais se estava no meio de um show de jazz na Virada Cultural de São Paulo. Eu estava sendo carregado. Eu continuava sendo Gregório, disso eu tinha certeza. Pensei: “me tirem daqui, só isso que quero”. Eles estavam me tirando de lá, como se lessem meus pensamentos. Provavelmente eu falei em voz alta. Todo o trajeto me pareceu uma longa trilha ousada e perigosa. Nós já não estávamos no meio de um show de jazz. Ouvi sons estranhos dentro da minha cabeça. Não eram contrabaixos e nem saxofones. Entramos em uma padaria para comer. Eu precisava comer. Comecei a associar as coisas. Talvez. Acho que estava consciente. Acho que o relógio marcava uma hora da manhã ainda. Eu estava com sede. Eu sabia que estava na Virada Cultural de São Paulo. Quis falar algo, mas faltou coragem. O atendente me olhou como se xingasse mentalmente toda a minha família e toda a minha futura família e toda a família que eu nunca terei. Quis falar com ele, mas faltou coragem. Deram-me um misto quente. Dei uma mordida e quis agradecer, mas não consegui. Talvez tenha faltado coragem.
“Você 'tá melhor?”
Pensei lá na minha cabeça: “porra, estamos perdendo o maior show de todos!”. O quão fodido eu parecia estar? Não respondi se estava melhor ou não. Faltou coragem.
“Bebe essa água, é a melhor água do mundo”
Meu amigo estendeu o braço e me passou uma garrafa de água mineral. Desdenhei. Pensei lá na minha cabeça mais uma vez: "como essa pode ser a melhor água do mundo?". Se existisse uma melhor água do mundo, certamente não estaria naquela padaria. Dei um gole. Então algo realmente surpreendente aconteceu: eu já não estava numa padaria perto de um show de jazz na Virada Cultural de São Paulo. Eu estava no meio de uma imensa queda d’água, num lugar totalmente desconhecido, um céu azul, montanhas ao fundo e eu com os braços abertos e a boca aberta e o coração aberto para toda aquela água que caía bem em cima de mim e a água correndo pelo meu corpo e massageando meus músculos e o meu estado de relaxamento sendo tão grande, mas tão grande, que eu poderia até gritar - afinal, estava sozinho e relaxado o suficiente e o grito provavelmente ecoaria e a água bateria no chão e o barulho me acalmaria e eu teria certeza de que toda aquela sensação seria eterna. UAU!
De volta à padaria, o gole descia pela garganta. Sorri. Quebrei o meu próprio silêncio e concordei:
“Melhor água do mundo”
Foi o meu maior ato de coragem.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

EU ESTAVA COM ADRIANA



     Sentado numa mesa de bar e esperando por Adriana. Ela não chegava. Ela não chegaria. Eu ainda não sabia disso. Continuava na mesa de bar esperando por Adriana. É tão desesperador ficar sozinho no bar quando se está esperando por alguém e então essa pessoa não chega e você fica com aquela imensa cara de bosta. Parece aqueles sonhos em que você está nu diante de uma multidão. O olhar fica perdido e as mãos pedem por bebida ou cigarro. E quando a bebida e o cigarro acabam fica aquele constrangimento - aquela mão sem função, mão envergonhada, mão sem graça. Adriana não chegava.
     Quando conheci Adriana, ela trabalhava como fotógrafa em um grande jornal da cidade. Trabalhar em jornal já não dava tanto dinheiro naquela época. Eu lhe mostrava pequenos contos, na esperança de que fossem publicados algum dia, mas nunca tive sorte. O responsável por selecionar os contos que eram publicados no jornal me enviava mensagens de motivação e dizia que um dia eu conseguiria e que seguisse tentando. Adriana já era conhecida por beber tequila sem fazer careta e por ter lido toda a obra de Tchecov. A tequila me interessava.
     Na televisão uma luta de MMA. Nunca entendi o interesse das pessoas por isso. Urravam nas mesas e torciam fervorosamente. É sério que as pessoas saiam das suas casas para assistir dois homens lutando na televisão? Não faz o menor sentido. Enquanto buscava entender MMA, tentava ligar para Adriana. Sem sucesso. Ela não chegava. Ela não chegaria. Eu ainda não sabia disso. Então comecei a ligar para outros contatos da minha agenda telefônica. Diversas reações. Algumas não responderam, outras - poucas - me disseram que tudo bem, me esperariam para sair, tomar alguma coisa, jogar conversa fora, já outras foram diretas:
     "Porra, Gregório. Bebeu?"
     Eu estava bebendo mesmo. Estava bebendo numa mesa de bar e esperando por Adriana. Ela não chegava e não chegaria, mas vocês já sabem, eu não sabia disso ainda. Eu estava me sentindo só e quanto mais buscava me conectar às pessoas, mais depressivo ficava. Então pedi tequila ao garçom.
     "Meu amigo, quem são esses dois lutando?"
     "Jon Jones e Sonnen"
     "Legal"
     Eu gostava de Adriana. Não havia como não gostar dela. Ela tinha o sorriso mais bonito que eu conhecia. E eu conhecia muitos sorrisos. Adriana era especial. Porra, Adriana era a mulher da minha vida e por isso estava sentado numa mesa de bar esperando por ela. Não esperaria outra pessoa que não fosse ela. Ainda havia esperança. Sempre há esperança no mundo. Os Estados Unidos da América só não explodiram essa merda toda ainda porque possuem a esperança de que todo o mundo se curvará e lamberá as bolas do Tio Sam mais cedo ou mais tarde. É a esperança que nos mantém vivos. E talvez nem seja tão ruim assim lamber as bolas do Tio Sam.
     Virei a tequila.
     Comecei a reparar na árvore que estava do outro lado da rua. Eu era fascinado por árvores. Em momentos de solidão são as únicas companheiras fieis. Eu conhecia várias árvores ao redor do país. Elas ficam lá, paradas, enraizadas, lindas, com suas cabeleiras enormes e hipnotizantes. Elas dão oxigênio para a humanidade. Então alguns imbecis mijam nelas e jogam lixo e as desprezam. Porra, elas exalam vida sem receber nada em troca. Por que ninguém urra e torce por elas? Eu possuía muitas companheiras. Cada uma com o seu nome. Júlia, Mariana, Samantha, Elisabete, Érika, Vanessa, Natália e Maria. As minhas oito amantes.
     "Quer fazer mais algum pedido?"
     "Não, obrigado"
     O garçom quase indo embora, quando o chamo:
     "Pensando bem, quero sim! Qual é o nome dela?"
     Apontei para a árvore. Linda. Cabeleira imensa. O garçom não entendeu.
     "Ela quem?"
     "Ela. Não está vendo? A da cabeleira"
     "A árvore?"
     "Achei que já tivesse um nome"
     Ele riu. Perguntou quem eu era.
     "Sou um escritor"
     "É mesmo? E qual é o seu nome?"
     "Carlos Drummond"
     "Bom... não quer mais nada?"
     "Traz a conta"
     Esperava Adriana, mas já não havia esperança. Honestamente, torcia para que ela não viesse mais. O tal Jon Jones ganhava a luta na televisão. As pessoas aplaudiam. Eu realmente nunca entenderia. Paguei a conta, acendi um cigarro e fui até a minha nova companheira. Respirei um pouco do seu oxigênio e encostei a palma da mão em seu caule. Estava úmida. Senti calor. Era uma energia sobrenatural. Lembrei da energia de Adriana.
     "A partir de agora você se chamará Adriana. Qualquer hora eu volto e sei que estará me esperando"
     Era bom estar com Adriana.
     "Antes que eu me esqueça: sou Carlos Drummond de Andrade"
     Eu não estava sozinho. Eu estava com Adriana. Fui embora.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

AQUELA MULHER


Estava foda viver. Eu tinha acabado de ser despejado e não tinha para onde ir. Um casal de amigos me ofereceu a casa deles por um tempo, até as coisas voltarem ao normal. Aceitei. Sentia vergonha. Sou ser humano, é normal sentir vergonha. Sou menos homem por isso? Fiquei num quarto minúsculo, com todos os meus pertences empacotados num canto. Tudo o que eu consegui juntar na vida estava naquele quarto. Estava foda viver e por isso eu pensava em suicídio. Todo mundo vai morrer um dia. Talvez aquele fosse o meu momento. Que fodidos que somos, não é mesmo? A gente perde tempo com tanta coisa. Eu sempre perdi o meu com cigarros. Eu precisava de alguma outra coisa. Cigarro desgraça a vida. Eu estava sem casa. Todos tinham uma casa. Até os ratos possuíam casa. Eu estava me sentindo tão pequeno quanto o meu novo quarto. Todo mundo já pensou em morrer. Eu pensava nisso a todo momento. Sempre ficava deprimido demais para me matar, mas agora era sério. Eu costumava acordar aos domingos para fazer um sanduíche de mortadela e ligar para alguma prostituta. Pedia para trazer cinco garrafas de bohemia, um marlboro vermelho e aquela revista que eu odiava. Elas sempre traziam e enquanto fodia pensava que todo mundo iria morrer um dia. Agora eu não tinha mais bohemia, prostituta e nem casa. Mas continuava pensando que todo mundo morreria um dia. Morrer era a melhor opção.
Comecei a ouvir uma banda de Cuiabá que eu gostava e fui para a janela fumar. Fazia uma semana que eu finalmente conseguia parar de fumar, mas estava muito foda viver. Tem dias que a vida é um ato de coragem. Esse Hélio Flanders entendia a minha dor. Minha mãe me ligou. Eu não contei o que estava acontecendo. Não queria que ela se preocupasse. Eu nunca quis que ela se preocupasse. Deve ser por isso que saí de casa aos quinze anos. Na escola eu chorava e implorava para a coordenadora não contar para a minha mãe que eu havia feito alguma merda. Não me importava em cair e bater a cabeça e sangrar, desde que a minha mãe não soubesse. Agi naturalmente ao telefone. Ela nem percebeu. A gente se despediu como se tudo estivesse bem. Não estava. O cigarro me relaxava. Ainda estava foda viver.
Uma mulher se escorou na janela da casa vizinha. Não consegui ver seu rosto. Encarei-a e acho que ela fez o mesmo. Ela não fazia ideia de como estava a minha vida. Ela não fazia ideia de como era foda viver. Grande merda! Eu também não fazia ideia de como estava a vida dela. Talvez estivesse pior. Talvez estivesse foda para ela também. Chovia fraco. Eu não tinha mais casa. Eu só tinha um cigarro, a poesia daquelas músicas que me embalavam nos  momentos depressivos e aquela mulher na janela. Pensei em acenar, mas achei estúpido demais. Pensei em chorar. Era muito idiota fumar aquele cigarro e olhar para aquela mulher na janela. Tão desconhecida, tão aprisionada em seu próprio mundo, assim como eu estava aprisionado ao meu. Estávamos próximos, mas distantes. Caio Fernando Abreu com certeza escreveria algo muito interessante sobre isso. Eu não leria, sem dúvida. Será que a mulher da janela gostava de Caio Fernando Abreu? E arde mais que brasa em pele quente você olhando pra mim.
Eu queria morrer. Tive medo. A chuva ficou mais forte. Eu não tinha coragem. Eu não conseguiria morrer. De novo. Eu sempre fui muito medroso. Eu penso demais e isso sempre me coloca acima das emoções. A mulher ainda estava lá. Parada. O que estaria pensando? Comecei a me sentir desconfortável com a sua presença. Pensei na minha mãe e nos meus amigos. Estava foda viver mas concluí que valia a pena. Sou mais homem por isso? Fumei o último cigarro e fui dormir com a certeza de que aquela mulher ainda estava na janela.