Sentado numa mesa de bar e esperando por Adriana. Ela não
chegava. Ela não chegaria. Eu ainda não sabia disso. Continuava na mesa de bar
esperando por Adriana. É tão desesperador ficar sozinho no bar quando se está esperando
por alguém e então essa pessoa não chega e você fica com aquela imensa cara de
bosta. Parece aqueles sonhos em que você está nu diante de uma multidão. O
olhar fica perdido e as mãos pedem por bebida ou cigarro. E quando a bebida e o
cigarro acabam fica aquele constrangimento - aquela mão sem função, mão
envergonhada, mão sem graça. Adriana não chegava.
Quando conheci Adriana, ela trabalhava como fotógrafa em um
grande jornal da cidade. Trabalhar em jornal já não dava tanto dinheiro naquela
época. Eu lhe mostrava pequenos contos, na esperança de que fossem publicados
algum dia, mas nunca tive sorte. O responsável por selecionar os contos que
eram publicados no jornal me enviava mensagens de motivação e dizia que um dia
eu conseguiria e que seguisse tentando. Adriana já era conhecida por beber
tequila sem fazer careta e por ter lido toda a obra de Tchecov. A tequila me
interessava.
Na televisão uma luta de MMA. Nunca entendi o interesse das
pessoas por isso. Urravam nas mesas e torciam fervorosamente. É sério que as
pessoas saiam das suas casas para assistir dois homens lutando na televisão?
Não faz o menor sentido. Enquanto buscava entender MMA, tentava ligar para
Adriana. Sem sucesso. Ela não chegava. Ela não chegaria. Eu ainda não sabia
disso. Então comecei a ligar para outros contatos da minha agenda telefônica.
Diversas reações. Algumas não responderam, outras - poucas - me disseram que
tudo bem, me esperariam para sair, tomar alguma coisa, jogar conversa fora, já outras
foram diretas:
"Porra, Gregório. Bebeu?"
Eu estava bebendo mesmo. Estava bebendo numa mesa de bar e
esperando por Adriana. Ela não chegava e não chegaria, mas vocês já sabem, eu não
sabia disso ainda. Eu estava me sentindo só e quanto mais buscava me conectar
às pessoas, mais depressivo ficava. Então pedi tequila ao garçom.
"Meu amigo, quem são esses dois lutando?"
"Jon Jones e Sonnen"
"Legal"
Eu gostava de Adriana. Não havia como não gostar dela. Ela tinha
o sorriso mais bonito que eu conhecia. E eu conhecia muitos sorrisos. Adriana
era especial. Porra, Adriana era a mulher da minha vida e por isso estava
sentado numa mesa de bar esperando por ela. Não esperaria outra pessoa que não
fosse ela. Ainda havia esperança. Sempre há esperança no mundo. Os Estados
Unidos da América só não explodiram essa merda toda ainda porque possuem a
esperança de que todo o mundo se curvará e lamberá as bolas do Tio Sam mais
cedo ou mais tarde. É a esperança que nos mantém vivos. E talvez nem seja tão
ruim assim lamber as bolas do Tio Sam.
Virei a tequila.
Comecei a reparar na árvore que estava do outro lado da rua. Eu
era fascinado por árvores. Em momentos de solidão são as únicas companheiras
fieis. Eu conhecia várias árvores ao redor do país. Elas ficam lá, paradas,
enraizadas, lindas, com suas cabeleiras enormes e hipnotizantes. Elas dão
oxigênio para a humanidade. Então alguns imbecis mijam nelas e jogam lixo e as desprezam.
Porra, elas exalam vida sem receber nada em troca. Por que ninguém urra e torce
por elas? Eu possuía muitas companheiras. Cada uma com o seu nome. Júlia,
Mariana, Samantha, Elisabete, Érika, Vanessa, Natália e Maria. As minhas oito
amantes.
"Quer fazer mais algum pedido?"
"Não, obrigado"
O garçom quase indo embora, quando o chamo:
"Pensando bem, quero sim! Qual é o nome dela?"
Apontei para a árvore. Linda. Cabeleira imensa. O garçom não
entendeu.
"Ela quem?"
"Ela. Não está vendo? A da cabeleira"
"A árvore?"
"Achei que já tivesse um nome"
Ele riu. Perguntou quem eu era.
"Sou um escritor"
"É mesmo? E qual é o seu nome?"
"Carlos Drummond"
"Bom... não quer mais nada?"
"Traz a conta"
Esperava Adriana, mas já não havia esperança. Honestamente,
torcia para que ela não viesse mais. O tal Jon Jones ganhava a luta na
televisão. As pessoas aplaudiam. Eu realmente nunca entenderia. Paguei a conta,
acendi um cigarro e fui até a minha nova companheira. Respirei um pouco do seu
oxigênio e encostei a palma da mão em seu caule. Estava úmida. Senti calor. Era
uma energia sobrenatural. Lembrei da energia de Adriana.
"A partir de agora você se chamará Adriana. Qualquer hora
eu volto e sei que estará me esperando"
Era bom estar com Adriana.
"Antes que eu me esqueça: sou Carlos Drummond de
Andrade"
Eu não estava sozinho. Eu estava com Adriana. Fui embora.