sexta-feira, 10 de maio de 2013

EU ESTAVA COM ADRIANA



     Sentado numa mesa de bar e esperando por Adriana. Ela não chegava. Ela não chegaria. Eu ainda não sabia disso. Continuava na mesa de bar esperando por Adriana. É tão desesperador ficar sozinho no bar quando se está esperando por alguém e então essa pessoa não chega e você fica com aquela imensa cara de bosta. Parece aqueles sonhos em que você está nu diante de uma multidão. O olhar fica perdido e as mãos pedem por bebida ou cigarro. E quando a bebida e o cigarro acabam fica aquele constrangimento - aquela mão sem função, mão envergonhada, mão sem graça. Adriana não chegava.
     Quando conheci Adriana, ela trabalhava como fotógrafa em um grande jornal da cidade. Trabalhar em jornal já não dava tanto dinheiro naquela época. Eu lhe mostrava pequenos contos, na esperança de que fossem publicados algum dia, mas nunca tive sorte. O responsável por selecionar os contos que eram publicados no jornal me enviava mensagens de motivação e dizia que um dia eu conseguiria e que seguisse tentando. Adriana já era conhecida por beber tequila sem fazer careta e por ter lido toda a obra de Tchecov. A tequila me interessava.
     Na televisão uma luta de MMA. Nunca entendi o interesse das pessoas por isso. Urravam nas mesas e torciam fervorosamente. É sério que as pessoas saiam das suas casas para assistir dois homens lutando na televisão? Não faz o menor sentido. Enquanto buscava entender MMA, tentava ligar para Adriana. Sem sucesso. Ela não chegava. Ela não chegaria. Eu ainda não sabia disso. Então comecei a ligar para outros contatos da minha agenda telefônica. Diversas reações. Algumas não responderam, outras - poucas - me disseram que tudo bem, me esperariam para sair, tomar alguma coisa, jogar conversa fora, já outras foram diretas:
     "Porra, Gregório. Bebeu?"
     Eu estava bebendo mesmo. Estava bebendo numa mesa de bar e esperando por Adriana. Ela não chegava e não chegaria, mas vocês já sabem, eu não sabia disso ainda. Eu estava me sentindo só e quanto mais buscava me conectar às pessoas, mais depressivo ficava. Então pedi tequila ao garçom.
     "Meu amigo, quem são esses dois lutando?"
     "Jon Jones e Sonnen"
     "Legal"
     Eu gostava de Adriana. Não havia como não gostar dela. Ela tinha o sorriso mais bonito que eu conhecia. E eu conhecia muitos sorrisos. Adriana era especial. Porra, Adriana era a mulher da minha vida e por isso estava sentado numa mesa de bar esperando por ela. Não esperaria outra pessoa que não fosse ela. Ainda havia esperança. Sempre há esperança no mundo. Os Estados Unidos da América só não explodiram essa merda toda ainda porque possuem a esperança de que todo o mundo se curvará e lamberá as bolas do Tio Sam mais cedo ou mais tarde. É a esperança que nos mantém vivos. E talvez nem seja tão ruim assim lamber as bolas do Tio Sam.
     Virei a tequila.
     Comecei a reparar na árvore que estava do outro lado da rua. Eu era fascinado por árvores. Em momentos de solidão são as únicas companheiras fieis. Eu conhecia várias árvores ao redor do país. Elas ficam lá, paradas, enraizadas, lindas, com suas cabeleiras enormes e hipnotizantes. Elas dão oxigênio para a humanidade. Então alguns imbecis mijam nelas e jogam lixo e as desprezam. Porra, elas exalam vida sem receber nada em troca. Por que ninguém urra e torce por elas? Eu possuía muitas companheiras. Cada uma com o seu nome. Júlia, Mariana, Samantha, Elisabete, Érika, Vanessa, Natália e Maria. As minhas oito amantes.
     "Quer fazer mais algum pedido?"
     "Não, obrigado"
     O garçom quase indo embora, quando o chamo:
     "Pensando bem, quero sim! Qual é o nome dela?"
     Apontei para a árvore. Linda. Cabeleira imensa. O garçom não entendeu.
     "Ela quem?"
     "Ela. Não está vendo? A da cabeleira"
     "A árvore?"
     "Achei que já tivesse um nome"
     Ele riu. Perguntou quem eu era.
     "Sou um escritor"
     "É mesmo? E qual é o seu nome?"
     "Carlos Drummond"
     "Bom... não quer mais nada?"
     "Traz a conta"
     Esperava Adriana, mas já não havia esperança. Honestamente, torcia para que ela não viesse mais. O tal Jon Jones ganhava a luta na televisão. As pessoas aplaudiam. Eu realmente nunca entenderia. Paguei a conta, acendi um cigarro e fui até a minha nova companheira. Respirei um pouco do seu oxigênio e encostei a palma da mão em seu caule. Estava úmida. Senti calor. Era uma energia sobrenatural. Lembrei da energia de Adriana.
     "A partir de agora você se chamará Adriana. Qualquer hora eu volto e sei que estará me esperando"
     Era bom estar com Adriana.
     "Antes que eu me esqueça: sou Carlos Drummond de Andrade"
     Eu não estava sozinho. Eu estava com Adriana. Fui embora.